Conheci a Waldete Tristão quando ela era coordenadora pedagógica da Emei Prof. Arlindo Veiga dos Santos. Na época, eu era supervisora desta escola municipal de educação infantil e tive o privilégio de me aproximar da Waldete e de seu trabalho competente em defesa das infâncias e de sua luta antirracista.
Waldete é Doutora (USP) e Mestra (PUC/SP) em Educação. Foi Professora de Educação Infantil, Coordenadora Pedagógica e Formadora de Gestoras(es) e Professoras(es) na rede municipal de ensino da prefeitura de São Paulo. É consultora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades e participa do Ilu Oba de Min – Educação, Cultura e Arte Negra.
Waldete sempre me encantou com seu trabalho de formação de professores, estudo e pesquisa sobre as infâncias e as relações raciais. Organizava encontros com as famílias, atuava na formação das professoras na perspectiva de um currículo antirracista trazendo as histórias africanas. Sempre foi boa leitora e contadora de histórias. Agora, Waldete nos inspira com sua própria obra literária.
No livro “DO ÒRUN AO ÀIYÉ: A CRIAÇÃO DO MUNDO”, que você pode encontrar no www.azizaeditora.com.br, Waldete Tristão narra a criação do mundo na “cosmo-percepção” africana. Falar em cosmo-percepção no lugar de cosmovisão muda tudo. A leitura do livro atravessa os sentidos e entra pelo corpo. Sabe aquele livro ao qual você se entrega de corpo inteiro? Foi assim comigo.
A narrativa traz a sabedoria de uma escritora e mulher negra que faz encontro com suas origens com a luz e a espiritualidade de uma anciã, por isso comove.
Do Òrun – céu, espaço sagrado dos Orixás - Olórun resolve que o Àiyé (terra) seria o lugar onde viveriam os seres humanos e chama Obàtálà para transformar o Àiyé. Assim começa o mito africano de criação do mundo. Não cabe aqui contá-lo na íntegra. Até porque acho que roubaria do leitor esta experiência.
No entanto, quero partilhar as reflexões que o mito provocou:
- O que e quem Obàtálà encontrou no seu caminho para criar o mundo? Como lidamos com as coisas, os seres e as pessoas na nossa caminhada? O que fazemos e como vivemos nossa caminhada?
O mito é uma metáfora sobre a formação do mundo e dos seres que habitam o mundo, de nossos caminhos, de nossas escolhas. Como Obàtálà, mães, pais, avós e educadoras(es) temos a missão de formar as novas gerações. Temos também o compromisso de recuperar a memória e as histórias dos povos originários e fazer encontro com a história africana e afro-brasileira. Nossas crianças têm o direito de conhecer a história, a sua história.
As ilustrações de Rodrigo Andrade são belíssimas e as palavras grafadas e acentuadas em iorubá parecem desenhadas. Tão bonito que parece que a ilustração é texto e o texto é ilustração! Juntos, se misturam e se completam: palavra e imagem; imagem e palavra.
Por fim, Waldete nos presenteia com um glossário das palavras em iorubá. Cada palavra aguça significados e sentidos que eu desconhecia e não havia experimentado. Uma generosidade só!
Outro livro da Waldete Tristão é o Conhecendo os Orixás: de Exu a Oxalá, com ilustrações de Caco Bressane. Nele, de forma simples e bonita, as crianças podem conhecer os Orixás (deuses africanos).
“Você sabia que em cada pedra, em cada plantinha, em cada vento e em cada raio de sol tem um pouco da força dos Orixás?”. Assim começa o texto de apresentação do livro. Mais uma obra que deve estar ao alcance de todas as crianças e promove uma percepção de matriz africana do mundo em que vivemos.
Outra leitura imperdível! www.arolecultural.com.br
Você também pode seguir a Waldete em sua página no instagram: @waldetetristao_escritora
Os livros da Waldete são “pedras de encantar”, são de fazer “chorar as pedras”.
Boa leitura!
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