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A pauta em pauta: considerações sobre a construção de pautas formativas



Silvana Lapietra Jarra


A construção de pautas se dá em vários âmbitos e pode expressar-se em múltiplas linguagens: pauta ou pentagrama musical (cinco linhas paralelas onde se escrevem as notas musicais), pauta de uma assembleia de condôminos, pauta de reuniões das assembleias legislativas, pauta de reuniões de trabalho de diferentes organizações, pauta fiscal (informa o valor de mercado de um determinado produto, auxiliando na definição da base de cálculo do ICMS), pauta jornalística (serve de ponto de partida de uma reportagem orientando o jornalista na elaboração de sua tarefa), pautas de reuniões pedagógicas e de encontros formativos destinados a educadores.


A palavra pauta, substantivo feminino que significa lista ou relação, tem origem no latim “pacta”, plural de pactum, que significa “convênio” e descreve a expressão de compromissos estabelecidos. Pauta significa, também: “lista, relação, rol, o conjunto de linhas horizontais e paralelas produzidas no papel pela pautadora ou pelo fio da pauta”. Estas linhas horizontais orientam a escrita para que as palavras e frases sejam registradas com organização.

Quando nos remetemos à etimologia da palavra pauta e aos significados a ela atribuídos, conseguimos fazer uma aproximação dos sentidos, princípios, concepções e propósitos que os formadores de docentes e gestores educacionais expressam na elaboração das mesmas evidenciando o seguinte:

·       Uma pauta nunca é neutra, revela escolhas que se travam num campo de disputa de poder;

·       De forma expressa ou subjacente, pautas revelam concepções, valores, potências e fragilidades, princípios e referências teóricas de seus propositores;

·       A escolha dos assuntos, dos objetivos e dos procedimentos metodológicos contida na pauta exige o estabelecimento de “pactos”, de “acordos”, de “convênios” considerando-se o que é necessário e mais “conveniente” a ser tratado “para todos” e “por todos” os envolvidos;

·       Pautas tem a função de orientar e de organizar encontros, articulando-os a tarefas, a experiências, a processos e a propostas;

·       Pautas sistematizam e subsidiam o registro de ações e processos.


O que levar em consideração ao construir a pauta formativa?


Quando concebemos a formação como uma experiência, o educador não será mais o mesmo, mas alguém ressignificado e transformado por aquela experiência formativa. Por isso, alguns fatores precisam ser levados em conta na construção da pauta.

A pauta consiste em instrumento crucial para a organização do encontro formativo. A maneira de conceber, viver a formação e organizar o encontro expressa a concepção do formador. Não há modelos a serem seguidos. A autoria, a criação e o protagonismo do formador precisam ser defendidos. O formador é sujeito de sua própria ação, deve pensar sobre a própria experiência: por que faz, para quem faz, o que faz. Não pode ser visto como um replicador de “boas” pautas.

Por isso, este artigo não pretende servir como roteiro para elaboração de pautas, tampouco apresenta um modelo de pautas. Encontros de educadores devem contribuir para romper com processos mais transmissivos de formação permanente. Na verdade, se a pauta do encontro for muito instrucional não caracterizará uma formação e sim um treinamento. O tratamento dado à construção de pautas aqui defendido, diz respeito a processos que pretendem a promoção de experiências de formação que possam humanizar encontros de educadores dialogando com suas crenças e práticas, com vistas ao seu desenvolvimento profissional, pessoal e acadêmico .

Neste sentido, mais do que tecer considerações sobre a estrutura pauta propriamente dita, o presente texto pretende estabelecer uma conversa sobre o que o formador deve considerar no processo de elaboração da pauta de um encontro destinado à formação de educadores. Como o formador chega à pauta? Este artigo acima de tudo convida todos aqueles que se aventuram na formação a pensarem sobre o percurso que realizam para elaborar a pauta formativa, dentro de um contexto e de um planejamento abrangente, dialógico e complexo.



1.     Contexto da formação e o planejamento da escuta das demandas.


A construção da pauta do encontro não está descolada do plano de ação do formador e do contexto de outras ações formativas, do currículo vivido. Uma pauta não nasce, nem tampouco morre no planejamento de dado encontro ou reunião. Uma das tarefas do formador é fazer a escuta das demandas das necessidades formativas, assim como, construir por meio de


procedimentos formativos e de trabalho colaborativo, sentidos, fazeres e saberes que merecem ser compartilhados pelos sujeitos envolvidos na formação.

Vale ressaltar que o mapeamento das demandas formativas deve problematizar inquietações e necessidades do grupo e por isso, nem sempre, as propostas de pauta conversam de imediato com os desejos dos educadores. É bastante comum, assuntos e temas abordados numa pauta derivarem de pedidos dos educadores que anseiam por respostas práticas, por soluções imediatas e infalíveis para os dilemas enfrentados no exercício da profissão. Mas, é preciso cuidar para não elaborar uma pauta que atenda somente a isso. A pauta precisa atuar naquilo que o formador consegue ler como necessidade formativa a ser trabalhada com seu grupo.

O formador precisa assumir responsabilidade e compromisso ético na escolha de temas, cacifar sua proposta e ser coerente com princípios e referenciais teóricos. Precisa diferenciar queixas dos educadores de demandas formativas autênticas. Por exemplo: professores podem reclamar da indisciplina dos alunos como dificultadora da aprendizagem, mas o formador de professores precisa problematizar as estratégias didáticas, a relevância dos conteúdos, o manejo da turma, o preparo das aulas e outros aspectos relacionados ao fazer do professor que podem colaborar com esta indisciplina (caso contrário, somente os estudantes seriam responsáveis pela indisciplina). Já o formador de formadores de professores deve estar atento a falas do tipo: “Precisamos estudar com os professores sobre motivação porque eles estão desmotivados, não acreditam mais na profissão. Eu proponho estudo e leitura, mas os professores não querem saber de estudar.” O formador de um grupo de coordenadores pedagógicos precisa escutar esta fala como uma queixa. Precisa ajudar os coordenadores a olharem para sua própria ação como formadores de professores. Que ações formativas desenvolvem com seus professores para ajudá-los a saírem da desistência? Como podem implicar os professores na corresponsabilização de sua própria formação? Uma vez evidenciada, a demanda formativa precisa transformar-se em proposta de formação.

Toda formação deve propor uma reflexão sobre a própria ação dos sujeitos envolvidos. Boa formação é aquela provoca perguntas, desinstala os sujeitos, transforma as pessoas, afeta, configura-se “numa” experiência. O exercício da escuta requer atenção e observação, mas, sobretudo, planejamentoEscuta não é algo que brota do chão. A escuta ativa precisa ser PLANEJADA. Por isso, um formador deve se perguntar: Os encontros e outras ações formativas  anteriores  proporcionaram  experiências  que  permitiram  aos  educadores


manifestarem suas dúvidas, seus anseios, suas necessidades, suas concepções e suas práticas? Quais regularidades o formador observa no pensamento e no comportamento dos educadores? Observa-se necessidades formativas comuns? O formador precisa reconhecer e localizar aquilo que se repete na ação prática e na forma de pensar dos educadores; precisa fazer o registro destas manifestações e impressões; precisa se perguntar sobre as possibilidades formativas que emanam destas manifestações. A escuta inexiste fora da pergunta, da pesquisa e do planejamento. A pauta nasce das perguntas que o formador faz sobre o que viu, viveu, vive e pretende viver com os educadores no percurso formativo.

Planejar a escuta requer que o formador inclua na pauta momentos que alarguem o diálogo (tarefas, trabalhos em grupo, relatos de prática, apresentação dos educadores em plenárias). Por isso, o formador precisa propor experiências nas quais os envolvidos manifestem valores, concepções, conhecimentos e intenções. Boa pauta é aquela que utiliza a metodologia dialógica, que promove a conversa, que inclui o contraditório, que estabelece clima de abertura e acolhimento às manifestações e expressões dos envolvidos, que garante que as pessoas tenham voz. Os diferentes registros que trazem as falas e manifestações dos educadores acerca de sua profissão devem ser considerados na proposição e elaboração da pauta do encontro de formação. São os registros que alimentam a escuta e o caráter participativo e colaborativo do planejamento.

No entanto, é preciso considerar que o diálogo precisa ser coordenado e mediado pelo formador para não se transformar em conversa aleatória, descomprometida com o assunto tratado. Falas e manifestações precisam ser problematizadas e mediadas pelo formador, o qual deve garantir e prever momentos de síntese e mediação na pauta do encontro. Promover diálogo não significa deixar a reunião sem rumo. A pauta tem como função organizar a conversa e garantir que o tema não se perca.

Cabe aqui dizer que toda proposta traz em seu bojo uma aposta do formador em relação àquilo que pretende alcançar com seu grupo. Um encontro está amarrado a outros que lhe antecederam e outros que lhe sucederão, localiza-se no contexto de diversas ações formativas:

·       Reuniões e encontros anteriores,

·       Plano de ação do formador,

·       Princípios e diretrizes legais e educacionais,

·       Referências teóricas,


·       Necessidades/problemas/particularidades de grupos e específicas do território no qual se desenvolve a formação,

·       Registros do formador (atas das reuniões; reflexões sobre o seu fazer como formador, diários de bordo, cadernos de anotações, portfólios; registros reflexivos após reuniões),

·         Devolutivas escritas feitas pelo formador,

·       Acompanhamento   por    parte   do    formador,   das    ações    dos                                 educadores   no desenvolvimento de sua prática pedagógica,

·        Registros elaborados pelos participantes e pelo formador: avaliações de encontros, falas e comentários durante os mesmos, imagens e filmagens, registros das tarefas.

A elaboração de uma pauta não pode ser vista como construção isolada porque precisa considerar todo o contexto supracitado, no qual a formação se desenvolve. A pauta insere-se num dado contexto e nasce de uma proposta formativa.



2.     A articulação da pauta com o plano de ação do formador.


A construção de pautas formativas decorre do plano de ação do formador. Quanto mais claros forem os propósitos estabelecidos neste plano, maiores serão as chances de pautas mais consistentes e das reuniões de formação se desenvolverem com maior êxito. O formador precisa identificar se há coerência entre a pauta e seu plano de ação. O plano de ação é instrumento formativo fundamental porque é por meio dele que estabelece focos de ação, sua rotina, seus objetivos, os conteúdos a serem trabalhados, os procedimentos metodológicos. A construção da pauta conversa com tudo isso, revela as concepções e propostas estabelecidas no plano, ou assim deveria ser. Assim como o plano de ação, a pauta traz em seu bojo uma aposta formativa. Conceber a pauta como caminho aberto que incorpora a escuta das demandas que emanam dos encontros, das tarefas e dos registros, não pode significar ausência de planejamento. Ao contrário, os focos e as frentes de formação estabelecidos no plano de ação devem servir como bússolas que norteiam as pautas.

Miguel Arroyo, em “Ofício de Mestre” (2000), chama a atenção para a existência do “professor cata-vento” porque procura toda e qualquer inovação utilizando-a fora de contexto e de propósito. Saber inovar continua sendo grande desafio entre os educadores. O professor cata-vento não sabe o porquê da inovação ou o do novo material que utiliza, da nova tecnologia, da nova metodologia. Busca ser diferente e tenta garantir prazer e alegria aos processos de


ensino e aprendizagem. Os encontros formativos podem ser alegres e provocar sentimentos belos e bons nos sujeitos, mas tudo isso deve fazer e produzir sentido. A formação não pode se abster de problematizar a prática dos educadores implicando-os em seu desenvolvimento pessoal, profissional e acadêmico. Antes de pretender que o encontro seja prazeroso, o formador deve refletir sobre a coerência e o propósito da pauta, precisa interligar as estratégias, conteúdos e objetivos estabelecidos na mesma com o proposto em seu plano de ação.

A ausência de coerência e de clareza deve ser combatida pelo formador evitando-se a utilização de dinâmicas de grupo, referências teóricas e outros aportes que em nada contribuem com o tema referência do encontro de formação. Muitas vezes, observamos pautas, ou momentos da pauta, que caracterizam o formador cata-vento. Escutar não é colocar-se à deriva, ao sabor dos ventos. Os caminhos podem ser muitos, mas o formador precisa saber onde quer chegar, precisa pensar como quer chegar, o que precisa fazer para chegar, quais serão suas estratégias formativas.

A pauta é um dos principais instrumentos da formação e por isso não pode ser vista como uma alegoria, algo desvinculado de proposta formativa maior. Pautas que caminham desconectadas do plano de ação apontam para duas coisas: ou o plano de ação do formador não tem bases consistentes, é equivocado e, meramente, burocrático; ou, a pauta está totalmente descolada, o encontro de formação vira um evento porque trata de aspectos/assuntos eventuais e não assume compromisso com o contexto e com a proposta formativa. Nesse caso, a pauta é um equívoco e não se justifica.

Cabe salientar aqui que a articulação da pauta com o plano de ação diz muito da abordagem de formação assumida e defendida pelo formador. As concepções expressas nas estratégias, nos procedimentos formativos, na escolha de temas e dos conteúdos, no estabelecimento dos objetivos, nos princípios e nas referências teóricas constantes da pauta devem ser coerentes com o plano de ação do formador.



3.     O lugar das tarefas na pauta: mapear e problematizar a experiência.


Todas as ações elucidadas anteriormente configuram o contexto da formação, mas destacamos a importância das tarefas no encadeamento dos encontros e na elaboração da pauta. O bom planejamento das tarefas é fundamental para o processo formativo e para garantir a proposta estabelecida no plano de ação. Por isso, as tarefas propostas nos encontros devem ser


levadas muito a sério pelo formador. Ao solicitar uma tarefa, o mesmo deve comprometer-se com sua leitura realizando devolutivas escritas individuais e/ou coletivas. A reunião é momento importante para a devolutiva das tarefas e neste sentido, a proposta de pauta decorre daquilo que o formador considera essencial problematizar/sistematizar/consolidar/conceitualizar com seu grupo. As tarefas solicitadas ajudam a mapear as demandas formativas e a problematizar a experiência dos envolvidos.

A tarefa deve ser pensada como algo que alimenta a conversa entre um encontro e outro, propondo estudo, pesquisa, registro de práticas relacionadas ao tema tratado e aos assuntos a serem abordados na próxima pauta, pois funciona como elo da corrente formativa ajudando a relacionar um encontro a outro. As tarefas, quando bem planejadas, auxiliam no processo de colheita de demandas formativas e a desvelar as concepções, as práticas, os fazeres, os saberes e os desejos dos educadores envolvidos; ajudam a trazer pistas para alimentar as próximas pautas.

Para tanto, o formador deve perguntar:


·       Como as tarefas aparecem na pauta? Como se deram a leitura, e a sistematização dos registros elaborados pelo próprio formador que são oriundos das tarefas?

·       O que significa fazer devolutiva? Como o formador elabora suas devolutivas? Apresenta-as por escrito? Organiza a reunião de formação como uma devolutiva? Prepara a reunião para dar uma devolutiva, provocando inquietações que possam problematizar práticas e deslocar os sujeitos?

Na verdade, a pauta deveria ser compreendida, como a própria devolutiva do formador sobre o que observou nos encontros anteriores e sobre o que os educadores apresentaram nas tarefas propostas. Para isso, deve basear-se na síntese e na sistematização de conhecimentos, saberes e conceitos. Num processo formativo marcado pelo diálogo e pela experiência, a pauta significa devolutiva do formador. Contudo, é preciso considerar que estruturar o encontro como devolutiva não significa dar respostas e “lições” aos educadores. Não se trata de uma “réplica” ou “tréplica” do formador, mas significa usar a reunião como possibilidade de voltar a uma conversa e eleger uma pauta que proponha organização e caminho metodológico para abordar o tema selecionado, problematizando ações, ideias e concepções.


4.     A importância do registro reflexivo: pausa para articular as ações e construir sínteses.

Considerando que a pauta está inserida dentro de contexto de formação mais amplo, que decorre (ou deveria decorrer) do plano de ação do formador e que as tarefas funcionam como elo entre os encontros deste percurso formativo, garantindo a continuidade e a relação entre os mesmos, os registros de todo o processo são fundamentais para historicizar e planejar a pauta do encontro.

O formador apoia-se em diferentes registros para construir suas pautas: atas das reuniões, pautas e registros do processo de planejamento de encontros anteriores, registros das avaliações dos participantes, registro do acompanhamento e desdobramento das ações dos educadores no exercício de sua função, diários de bordo, portfólios, etc.

Todavia, entre todos os registros supracitados, merece destaque o registro reflexivo que o formador faz após cada encontro de formação, ou seja, o registro reflexivo feito após o desenvolvimento de uma pauta. O referido registro agrega os demais, mas funciona como balizador de novas pautas. Por este motivo, é importante que o formador registre tudo o que observar no encontro, sobretudo as falas e as manifestações dos envolvidos (anotar enquanto as pessoas falam, filmar, fotografar). Estas anotações, muitas vezes descritivas, configuram matéria prima para o registro reflexivo: registro que o formador faz olhando para todo esse material bruto, colocando perguntas. O registro torna-se reflexivo quando o formador faz ponderações sobre o que funcionou na pauta, sobre sua atuação, seu desenvolvimento, a pertinência do assunto escolhido, sobre as demandas formativas que emanam das falas e das imagens. Enfim, o registro reflexivo funciona como movimento de síntese, exige e demonstra uma pausa necessária do formador para pensar e refletir sobre a pauta. Esse movimento é fundamental para a construção das próximas pautas.

Fazer síntese não é fazer resumo do encontro. Fazer síntese exige primeiro a capacidade de analisar fatos com outros registros, de relacionar o encontro ao contexto. A construção de sínteses pede pausa para reflexão sobre a açãopausa para a reflexão sobre os registros da reflexão sobre a ação. Deste modo, quanto mais forem reflexivos os diferentes registros do formador, maiores serão suas chances de articulá-los para a produção de boas sínteses. A síntese ocorre quando estabelecemos interrelação entre os instrumentos formativos e os registros diversos do percurso vivido, articulando-os para construir a pauta.


A construção de sínteses permite planejar ações de forma articulada. Por exemplo: um coordenador pedagógico constrói síntese quando opera sobre os dados que recolhe das reuniões pedagógicas, dos atendimentos individuais, do acompanhamento da aula dos professores, da leitura do planejamento e dos registros sobre o mesmo, das avaliações e registros que os professores fazem sobre os estudantes. Operar sobre os dados significa mais que colheita de dados, exige perguntas sobre os mesmos, pede postura crítica que coloca esses dados em cheque. O formador precisa colocar em dúvida, as falas e manifestações dos educadores que muitas vezes se apresentam falseadas por discursos prontos, politicamente corretos, precisa ver e ouvir para além das aparências. Para fazer registro reflexivo é necessário colocar em dúvida os próprios registros e dados que produz, perceber a greta das coisas, escarafunchar a realidade, que pode estar maquiada. Quanto mais a pauta se aproximar do fazer, da experiência concreta dos educadores, mais fácil será evidenciar discursos que se escondem em chavões pedagógicos e frases de efeito.

Uma das tarefas primordiais é trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com que devem se “aproximar” dos objetos cognoscíveis. (...) É exatamente, neste sentido que ensinar não se esgota no tratamento do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível. (...) Faz parte das condições em que aprender criticamente é possível a pressuposição de que o educador já teve ou continua tendo experiência da produção de certos saberes e que estes não podem a eles, os educandos, ser simplesmente transferidos. Pelo contrário, nas condições de verdadeira aprendizagem, os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo. Só assim, podemos falar realmente de saber ensinado, em que o objeto ensinado é apreendido na sua razão de ser e, portanto, aprendido pelos educandos. (FREIRE, 1996, p. 28 e 29)

Contar aos educadores como chegou à construção de uma síntese pode ser uma partilha interessante. Mostrar como foi lendo, interpretando e relacionando todos os dados coletados nos diferentes registros para eleger o tema a ser abordado numa pauta pode ser assunto para uma conversa formativa, pode virar tema de pauta específica, evidenciando que a construção de uma pauta não pode ser aleatória. A escuta do tema a ser tratado não brota em pé de arvore, não é fruto esperando para ser colhido. A construção de pauta exige síntese e resulta de muito registro, muita pesquisa, muito estudo teórico, muito trabalho de formação e acompanhamento dos sujeitos envolvidos. A competência do formador revela-se na capacidade de construir sínteses oriundas da articulação das diferentes ações, referências, documentos e registros que compõem a formação. A pauta é fruto desta capacidade de articular e fazer sínteses por meio das quais o formador se pergunta o que fazer diante das demandas que observa no grupo. Pausas para esta construção precisam ser garantidas. Como estão os registros de todo o processo formativo? Como eles se articulam? Como a escuta vai se configurar em proposta?



5.       A escolha do tema da pauta: a arte de fazer escolhas.


Quando o formador consegue articular todas as ações e constrói sínteses sobre o seu trabalho, consegue fazer o planejamento como Loris Malaguzzi, em Reggio Emília descreve como progettazione. Por meio das sínteses o formador vai construindo e sistematizando provisoriamente os saberes e não saberes do grupo. Isso o ajuda a organizar sua proposta formativa e a decidir o assunto a ser tratado na pauta do encontro.

O planejamento se dá em continuidade, porém não é linear. A medida em que o grupo se desenvolve e vai ganhando “musculatura” em determinada ação ou conceito, o formador vai propondo novos caminhos. Se o grupo recua em seu desenvolvimento, o formador também tem que retomar as questões e suas proposições. Desta forma, o planejamento se desenha como progettazione. As pautas representam essa busca, organizam o movimento de formação, planejando, estruturando e sistematizando a ação do formador na mesma medida em que desenham a proposta formativa.

Progettazione: Derivado do verbo italiano progettare ,que significa desenhar, inventar, planejar ou projetar no sentido técnico da engenharia. O substantivo progettazione é usado no contexto educacional como planejamento flexível, em que são criadas hipóteses iniciais sobre grupos de crianças (assim como sobre o desenvolvimento dos profissionais e as suas relações com os pais e a comunidade), mas que estão sujeitas a modificações e mudanças de direções conforme o trabalho progride. O termo é usado em Reggio em contraposição à programmazione, que implica planejamento baseado em currículos predefinidos, programas ou estágios. (EDWARDS, GANDINI e FORMAN (orgs), 2016, p.370).

Mas, o que abordar numa reunião? O que escolher como tema? Quando um assunto entra em pauta? Como eleger aquilo que é mais importante? Como medir/avaliar a importância? O que baliza a decisão do formador? Fazer escolhas é uma arte. Pautas com muitos assuntos tendem a levar reuniões ao fracasso. Esta decisão do formador decorre da sua capacidade de síntese.

Na formação vivemos momentos de problematizar realidades e concepções, momentos de sistematizar e momentos de organizar conceitos. Escolher o tema da pauta não é tarefa simples, exige foco. Ao eleger o assunto da pauta, o formador deve ter clareza dos objetivos,


dos conteúdos e da metodologia a ser utilizada. As sínteses provisórias que o formador vai construindo no planejamento que se torna vivo porque vai se fazendo pelo registro e pela escuta permanente dos sujeitos envolvidos, ajuda a eleger o tema da pauta. Nesta perspectiva, a pauta da reunião é parte do planejamento do formador enquanto progettazione e pode expressar-se por meio de cartas de intenções.

Outro problema aqui se estabelece: sempre há muito o que fazer e não raro, as sínteses apontam para mais do que uma direção. Mas, uma escolha deve ser feita. Por isso, é essencial conceber a pauta articulada ao plano de ação, ao contexto formativo, ao currículo pretendido e ao currículo vivido.



6.     A identificação do sujeito a quem se destina a formação.


Além de estabelecer o tema, a pauta precisa ser construída pensando em quem é o sujeito foco da formação. A QUEM SE DESTINA A PAUTA? Está realmente endereçada ao sujeito da formação? Esse cuidado precisa ser redobrado quando tratamos da formação do formador. Infelizmente, é comum observar pautas endereçadas a coordenadores pedagógicos que tematizam as práticas dos professores e sequer se aproximam da realidade concreta da ação da coordenação pedagógica.

O formador deve considerar os sujeitos da formação dentro lugar que ocupam na cadeia formativa. Como se costuma dizer: pode ter um olho no peixe e outro no gato. Contudo, a pauta precisa levar à reflexão sobre os fazeres, saberes e não saberes do sujeito da formação: aula é objeto de trabalho do professor, é conteúdo de formação para docentes. Quando atuamos na formação de coordenadores pedagógicos devemos problematizar saberes e práticas do coordenador pedagógico junto aos professores para que os docentes qualifiquem a aula. O que o coordenador pode e deve viver na formação? O que propõe aos professores para ajudá- los a qualificarem suas aulas? Como a formação em serviço pode contribuir na qualificação do planejamento docente é tema de pauta para encontro de coordenadores pedagógicos. O que é registro reflexivo do professor? O que é registro reflexivo do coordenador? Fazer esta diferenciação é fundamental na construção da pauta.

Uma vez que o formador tenha clareza de quem é o sujeito foco de sua atuação outras perguntas se colocam: O que justifica o encontro? O que coloca os educadores no movimento de se reunirem para tratar sobre dado assunto? É sabido que quando o educador não está


envolvido com o assunto em pauta, o encontro não produz a experiência formativa. Seja por falta de desejo, seja porque não vê sentido ou relação entre assunto tratado com sua própria experiência. Quando o sujeito não observa e compartilha da necessidade de abordar a temática do encontro, a experiência formativa tem poucas chances de prosperar. Ao identificar a necessidade de abordar determinado assunto na pauta, o formador precisa encontrar estratégias para trazer à baila assuntos que não estão na ordem dos desejos dos professores.

Outro aspecto importante a ser considerado na elaboração da pauta é o reconhecimento dos saberes de todos. Saber é saber não importa de onde venha, já dizia o grande mestre Paulo Freire. A postura do formador é muito importante para a construção de vínculos e de sua autoridade. A pauta do encontro deve partir daquilo que os educadores já sabem e deve problematizar suas certezas, promovendo “arranhões” naquilo que eles podem e precisam saber, instaurando boas perguntas, questionando certezas. Mas, o formador precisa ser conhecedor do assunto a ser tratado na pauta. Muito de sua autoridade decorre dos saberes que construiu sobre a formação. Isso não significa ser mestre pleno de verdades e certezas, mas o formador precisa ser uma autoridade no grupo. Ao escolher o assunto que levará para a pauta o formador precisa se comprometer com a pesquisa e aprofundamento do tema que pretende abordar.

O formador de educadores precisa pesquisar duplamente: precisa aprofundar seus conhecimentos em relação ao assunto da reunião e do mesmo modo, precisa aprofundar seus conhecimentos sobre como os educadores compreendem e tratam os conteúdos referentes ao referido tema. Para elaborar a pauta é necessário levar em conta a estrutura cognitiva dos educadores.

Para Ausubel (1968), a estrutura cognitiva existente – tanto o conjunto de ideias presentes num indivíduo, bem como as suas propriedades organizacionais, num assunto específico, num determinado momento – é o principal fator que influencia a aprendizagem. (...) a quantidade, a clareza e a organização do conhecimento presente no aprendiz é a principal variável a ser considerada por professores e educadores durante o processo ensino- aprendizagem.(...) A estrutura cognitiva para o ser humano, tal como a propõe Ausubel, é hierarquicamente organizada, ou seja, conceitos e proposições mais inclusivos, com maior poder de generalização, estão no topo da hierarquia e abrangem conceitos e proposições menos inclusivas, com menor poder de generalização. (RONCA, 1980)

O formador deve procurar conhecer seu grupo, partir das experiências e saberes já construídos pelos educadores para promover novos saberes. É importante conhecer a estrutura cognitiva do grupo, saber quais são as concepções, o que eles já sabem a respeito e o que


precisam e podem vir a saber, para elaborar a pauta. Somente assim, a pauta poderá contribuir com a problematização de conhecimentos, crenças e valores já construídos.


7.     A elaboração e a estrutura da pauta.


Como evidenciamos ao longo deste artigo, para chegar ao tema da pauta o formador percorre longo caminho. Tal processo exige que ele veja a proposta da reunião dentro de um contexto maior, que planeje a escuta das demandas formativas, que articule a pauta com seu o plano de ação, que identifique as tarefas como elo de ligação entre os encontros, que viva pausas para construir sínteses por meio de registros reflexivos.

Além disso, precisa vencer a tentação de trabalhar com muitos assuntos e eleger um tema para tratar no encontro. Sobretudo, precisa ter muita clareza de quem é o sujeito a quem endereça a pauta. Uma vez escolhido o tema a ser tratado na reunião e definido o sujeito alvo da formação, o formador chega à elaboração da pauta propriamente dita. Destacamos a seguir elementos e momentos importantes que devem constar da pauta, fazendo parte de sua estrutura.

7.1. Tema - Precisa ser lido e identificado pela coerência que os itens e momentos da pauta estabelecem com ele. É bastante conveniente que venha destacado no corpo da pauta. Ao apresentar a proposta da pauta é interessante que o formador narre, brevemente explicite os motivos da escolha do mesmo. Quanto mais compartilhada e compreendida for a escolha do assunto a ser tratado, maior será o grau de envolvimento das pessoas no encontro. Ao deixar claro o assunto da pauta, o formador evita o atravessamento da reunião por outros temas. Isso não significa que o formador se feche para outros temas. Contudo, deve estabelecer o que pode ou não negociar naquele encontro. Estabelecer combinados desde o começo da reunião é muito importante. O formador precisa defender a pauta e diante de novas propostas, precisa deixar claro o que poderá e o que não poderá negociar, estabelecendo combinados acerca de temas que poderão ser abordados noutros encontros. Por isso, deve deixar informes e outros assuntos para o final da reunião, evitando que eles “roubem” o tempo destinado ao desenvolvimento da pauta.

7.2.  Objetivos – Estabelecer com clareza. Além de estarem relacionados ao tema, os objetivos precisam dirigir-se à ação dos sujeitos envolvidos na formação. Por isso, o formador precisa sempre revisitá-los e questionar-se: São objetivos destinados a professores ou a formadores de professores? A pauta deve envolver


os educadores, convidar a sua participação. Quanto mais perto chegar da experiência concreta do envolvidos, mais facilmente os objetivos serão atingidos.

7.3. Conteúdos – Assim como os objetivos, devem aparecer de forma explícita na pauta. Os conteúdos escolhidos revelam o que daquele tema será abordado no encontro. A estruturação e escolha dos conteúdos depende muito do reconhecimento da estrutura cognitiva dos sujeitos envolvidos na formação. Não dá para propor conteúdos que não partam de saberes já construídos. Numa perspectiva dialógica é impraticável problematizar aquilo que ainda não está na estrutura cognitiva dos educadores. Outra coisa importante a se considerar na escolha dos conteúdos é verificar se eles se relacionam com os objetivos. Tanto os objetivos como os conteúdos devem ser apresentados pelo formador no início da reunião.

7.4. Epígrafe – A boa epígrafe ajuda a apresentar o assunto em pauta. Uma epígrafe, normalmente, traz a citação de um autor usado como referência teórica, mas pode trazer trecho de texto literário (poesia, letra de música, excerto de um romance). Algumas pautas trazem imagens como epígrafe, convidando o leitor a olhar para o tema por meio de outras linguagens. Independentemente da linguagem a ser utilizada, a epígrafe anuncia o tema a ser tratado. Portanto, ao selecionar uma epígrafe devemos considerar se esta relação está estabelecida. A epígrafe costuma dar pistas do tom a ser dado à prosa, desvelando as concepções subjacentes ao tratamento que será dado ao tema.

7.5.  A evidência dos momentos da reunião na pauta - Há muita discussão sobre a marcação de tempo cronológico para cada momento estabelecido na pauta. O tempo não precisa necessariamente vir escrito (enquanto demarcação dos minutos destinados a cada momento), desde que o formador tenha clareza da importância e da duração que cada etapa deva assumir no encontro, organizando o tempo. No entanto, é imprescindível explicitar os momentos que serão vividos na reunião. Toda pauta precisa ser flexível, pode ser alterada, mas se foi planejada com rigorosidade, merece ser defendida. O formador pode, em conjunto com os educadores, subverter a sequência proposta, sacrificando algum aspecto ou conteúdo da pauta. Para tanto, precisa ter clareza do que merece ou pode ser sacrificado para não comprometer toda a reunião. Além disso, elencar na pauta a sequência dos momentos que serão vividos na reunião


é crucial para que os educadores compreendam o que está previsto para o trabalho do dia ampliando a participação de todos. A identificação dos momentos que organizarão os trabalhos na pauta revela transparência, compromisso com o grupo e o caráter democrático do formador. A explicitação dos momentos demonstra também, a coerência e a clareza com a qual cada etapa organiza a discussão de dado assunto. A metodologia do adotada pelo formador se expressa nesta organização. Uma metodologia dialógica de formação que entende que a formação deva constituir-se numa experiência de fato, não se dá apenas conceitualmente, mas altera a prática pedagógica dos educadores. Neste sentido, sugerimos que a pauta contenha os seguintes momentos:

ü   Momento de apresentar a proposta e abrir a conversa, momento de colocar o assunto em pauta - inclui a apresentação da própria pauta (proposta do encontro, objetivos, conteúdos, apresentação dos momentos previstos); a leitura da epígrafe; a apresentação de imagens; a organização do espaço onde se realizará a reunião; a leitura de um texto disparador. Todo este arranjo inicial é importante para colocar o assunto em pauta, mobilizar e acionar as pessoas para que se “engajem” na reunião. Cabe destacar que a construção deste momento vai além de sensibilizações. Aliás, esta expressão, corriqueiramente usada por formadores para caracterizar o começo de uma pauta, carrega alguns equívocos. Muito mais do que sensibilizar, isto é, tornar as pessoas sensíveis, afetar sensações e emoções, este momento precisa ser o disparador de uma experiência de conhecimento. De fato, na perspectiva defendida por Dewey, não existe experiência de conhecimento fora da dimensão estética. Contudo, a experiência não se restringe a vivência de momentos “gostosos” ou “emocionantes”. Para Dewey, o padecimento é atributo fundamental da experiência de conhecimento. Nesta perspectiva, consideramos a expressão palavras/imagens de abrir a conversa mais alinhada à formação como experiência. Este momento pode ser organizado de muitas formas: o formador pode colocar uma instalação no espaço que provoque as pessoas sobre o assunto a ser tratado, pode projetar imagens, pode fazer a leitura de texto literário, pode fixar textos e falas dos próprios participantes nas paredes. É importante que toda esta proposta inicial acione os educadores


para a discussão do tema escolhido, abra o diálogo para o assunto em pauta e não para qualquer conversa.

ü  Momento de proporcionar o diálogo com as práticas, valores, crenças, conhecimentos e conceitos dos educadores. O diálogo com a experiência concreta dos participantes por meio de atividades grupais, análise e tematização de práticas, narrativas de experiências, partilha de conquistas e de desafios, precisa ser garantido no encontro de formação. O encontro de formação deve chegar à ação dos sujeitos envolvidos e é fundamental que os educadores percebam aproximações e contradições entre o que fazem com o que as teorias propõem. Para tanto, a pauta deve garantir um momento para que os educadores exponham fazeres, saberes, práticas, ideias, conceitos. O momento da partilha de saberes e não saberes, fazeres e não fazeres, ocorre em trabalhos em grupos menores e nas plenárias. É fundamental prever este momento, pois promovem o encontro do educador consigo mesmo e, com os outros.

ü   Momento de sistematizar conceitos e conhecimentos. Muito importante garantir na pauta o momento para a sistematização de conceitos. A sistematização dos conceitos caminha em duas direções quando tratamos da formação de educadores: os conceitos relativos aos conteúdos do tema abordado e os conceitos relativos à didática para ensinar e aprender este conteúdo. A síntese do formador acerca das falas e manifestações do grupo que coordena se faz necessária e presente neste momento. Ao mesmo tempo em que o formador precisa fazer intervenções que desloquem os sujeitos envolvidos, precisa, também, manejar o grupo com cuidado, ser respeitoso e ético. Quando a pauta está articulada ao plano de ação do formador, as demandas formativas são bem mapeadas e o formador aciona a sua capacidade de “escuta”, esta síntese pode ser “ensaiada” antes do encontro. O que queremos dizer aqui é que a síntese será mais qualificada se planejada, se o formador “puder” antecipar as manifestações do grupo. Este momento exige capacidade de síntese e o compromisso do formador com a necessidade de fazer intervenções qualificadas. Há falas que precisam ser problematizadas durante o próprio encontro, não podem ser referendadas e legitimadas pelo formador. Por exemplo: o formador não pode legitimar queixas que justificam o imobilismo e a resistência a mudanças, nem


tampouco legitimar conceitos e ideias errôneas, ilegais que possam ferir direitos e a dignidade humanas.

ü   Momento de avaliar o encontro. Solicitar aos participantes que avaliem o encontro ajuda na construção de novas pautas e no mapeamento das necessidades formativas dos participantes. Por isso, a forma de fazer a avaliação precisa ser pensada. Há encontros que por sua natureza, exigem o compartilhamento da avaliação entre os presentes, ao final. A avaliação individual dos participantes deve ser solicitada sempre. Então, o formador precisa garantir um tempo para essa conversa final na pauta. Quando o formador propõe uma avaliação escrita individual pode disponibilizar o formulário destinado ao registro desta avaliação, desde o começo do encontro para que os educadores possam pensar e refletir sobre as questões durante toda a reunião. Cabe destacar que quanto mais a avaliação envolver a implicação dos educadores com o tema abordado na pauta, maior será sua contribuição na organização de futuras pautas. Neste sentido, é interessante que o formador pense na forma de propor a avaliação, fazendo perguntas que envolvam a experiência concreta dos participantes para além do: gostei, não gostei, pontos positivos, pontos negativos.

ü   Outros - Todo formador vai construindo sua forma de fazer pauta, estabelecendo algumas rotinas, imprimindo sua autoria e personalidade. Para além dos momentos fundamentais anteriormente evidenciados, algumas pautas trazem outros momentos que configuram rotinas bem interessantes: momento da leitura; momento da nutrição estética; momento da acolhida (reservado para apresentações, aproximações entre as pessoas, a organização do lanche); momento do acontece (dicas sobre fóruns, seminários, publicações, eventos e dicas culturais); momento de ampliação de repertório cultural (no qual os participantes relatam suas experiências em exposições de arte, cinema, literatura, teatro); momento da leitura do registro do encontro anterior e outros.

7.6.  Referências teóricas e ampliação de repertório. É interessante constar na pauta (ou em anexos) as referências bibliográficas usadas no encontro. O formador deve promover a ampliação de repertório do assunto abordado.

7.8. Disponibilizações de materiais e documentos. Os materiais, os livros usados como referência para os encontros, documentos curriculares e outras obras


podem estar dispostos em tapetes, mesas, carrinho de livros para manuseio e exploração dos educadores.

7.9.  A tarefa deve constar da pauta. Quando o formador solicitar uma tarefa, a mesma deverá aparecer na pauta ou em anexos.

A organização do espaço do encontro precisa ser considerada na organização do encontro, pois auxilia na estruturação da pauta. Muito se tem abordado a respeito da importância do espaço em processos educacionais a ponto deste, em abordagens mais progressistas, ser considerado o segundo educador. Assim, é muito importante pensar em disposição de cadeiras, na disposição de materiais, nos recursos que serão usados na reunião com a devida antecedência. Elementos e objetos dispostos no espaço que se relacionam com os conteúdos e objetivos da pauta precisam compor o espaço da reunião.

Há ainda, a oportunidade de realizar o encontro em outros espaços, promovendo a ampliação do repertório cultural dos educadores (teatros, museus, cinema, parques, etc.). Contudo, para que o encontro de formação não se configure em mero passeio, esta proposta precisa articular-se a tudo o que já foi exposto anteriormente. O formador precisa ter clareza do porquê propõe a reunião noutro espaço. A pauta construída requer cuidado ainda maior. O formador precisa perguntar-se: Qual o objetivo da ida a uma exposição? Como a pauta de um encontro organizado neste espaço deve estruturar-se? A proposta de levar os educadores à exposição de arte, ao teatro, ao cinema, ao parque e às ruas articula-se com seu plano de ação? A experiência articula-se com a ação concreta dos envolvidos? Como dialoga com isso? O filme, a exposição de arte ou a peça teatral assistida dialoga com os conteúdos e objetivos da pauta? Como esta experiência contribui na problematização de práticas, ideias e crenças dos educadores? É metáfora usada como procedimento formativo, ou mera alegoria?

Neste mesmo espaço, cabe ressaltar também a arte como parte do saber pensar e cuidar, não tanto para equipar as pessoas de habilidades clássicas ou nobres, mas principalmente para abrir o horizonte da estética da vida. (...) É preciso, pois, aninhar a arte no saber pensar para lhe fazer parte definitiva, não eventual, ocasional ou intermitente, como é o caso geralmente dos currículos atuais. (...) Em vez de entendermos a arte como vocação particular de teor supletivo e algumas vezes suspeito, é mister recuperar a ideia de que a vida é, em seu centro, arte. (...) Ao mesmo tempo, a arte liga-se à cultura e, como patrimônio histórico, guarda sempre o sentido profundo do cuidar em torno das identidades. (...) Arte e cultura são, em si mesmas, provas definitivas da mudança, da capacidade de aprender, mas não se descolam da história, do lugar, do contexto. Mal entendidas, podem puxar para trás, mas, bem entendidas, iluminam o futuro e mantêm o humano. (DEMO, 2000. p. 62)


As possibilidades de construção de pautas de formação são muitas: pautas mais objetivas, pautas mais conceituais, pautas mais poéticas. Uma pauta revela muito do sujeito que a propôs e a elaborou, traz muito da fisionomia do formador. Não existe jeito único de planejar, escrever e viver uma pauta. Os caminhos são diversos. O formador precisa ser autor e protagonista da formação, olhar para o processo de construção de suas pautas como busca, pesquisa do seu próprio fazer, como aprimoramento da própria experiência.








Referências Bibliográficas:

 

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SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Revista Magistério N° 05. Gestão: Articulando esforços para uma Educação de Qualidade. São Paulo: SME/COPED, 2018.

TERZI, Cleide do Amaral. O processo de aprender a estudar em grupo de educadores – escutas e pegadas em caminhos percorridos. In ALMEIDA, Laurinda Ramalho e de e PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza e (Orgs) . O coordenador pedagógico e os desafios da educação. São Paulo: Edições Loyola, 2012.




 

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